#ForçaChape: por que a dor do outro nos comove tanto?

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Ainda repercute pelo Brasil e pelo mundo a tragédia com a delegação de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulantes. Foram 71 vidas perdidas de repente, numa dessas catástrofes que desafia nosso senso de realidade. A forma repentina como aconteceu, o número de mortos e a representatividade que essas pessoas tinham em sua cidade, e mesmo em todo o Brasil, logo fez com que se instalasse um clima de descrença e comoção por todo o mundo. Quem viveu o triste 29 de novembro sabe bem do que estou falando.

Como é de se esperar após uma perda, nossa reação inicial foi de choque e negação. Quem não trocou de canal, procurou em outro site, conferiu mais uma vez para ter certeza? Num primeiro momento, por alguns minutos, nos negamos a acreditar. É uma forma que o 2016-11-29t222658z_554923164_rc1bb3ff3090_rtrmadp_3_colombia-crash_i922v8pcérebro encontra para lidar com o impacto da notícia para depois, aos poucos, ir assimilando o acontecido. Mas, era mesmo verdade. E logo, o que pudemos acompanhar foi um luto intenso e coletivo se instalando. O preto envolto no escudo do time da Chapecoense estava em todo o lugar. No facebook, mais manifestações de tristeza e pesar. Na televisão, nos jornais, na internet… Logo estávamos todos mergulhados em grande comoção.

Uma catástrofe dessa natureza, tão inesperada e impactante, expõe a todos nós, enquanto sociedade, à nossa vulnerabilidade. E nos mostra o quanto o mundo pode ser um lugar imprevisível. Repentinamente, tudo o que conhecemos e acreditamos já não existe mais. Nossa confiança é abalada e só resta a incerteza quanto ao presente e o futuro.

Parkes, psicólogo estudioso do luto, afirma que quando nosso mundo seguro e conhecido é abalado, precisamos reformular nossas crenças, expectativas e propósitos, de modo a encontrar uma nova maneira de viver sem aquilo que conhecíamos e não existe mais. 19422801_303Inicia-se então o trabalho de luto. Esse é um processo essencial para que possamos assimilar o acontecido e nos reconstruirmos após a perda.

Quando se trata de um luto coletivo, as estratégias de enfrentamento são as mais variadas. De modo quase unânime, quando algo assim acontece sentimos grande necessidade de ajudar, de fazer alguma coisa. Não só em auxílio daqueles impactados diretamente pela tragédia, mas também para ajudarmos a nós mesmos. A sensação de impotência diante da constatação clara da fragilidade da vida abala nosso senso de ordem e controle. Então, cada um, a seu modo, procura a melhor forma de lidar com a desordem desencadeada pela tragédia e com sua própria angústia frente à morte.

O que acompanhamos pela televisão foram vigílias, romarias ao estádio do time, momentos de oração, demonstrações de amor verde e branco. Uma multidão concentrada e chorando suas perdas. A perda traz consigo uma sensação de desamparo muito grande, umcolombia-1 vazio que se instala e desnorteia. Compartilhar a dor e chorar juntos ameniza a solidão, intensifica o sentimento de pertencimento e conforta.

Os rituais que já vemos acontecer, e outras despedidas que ainda virão, também são parte importante na elaboração do luto tanto coletivo quanto individual. Eles proporcionam o conforto da companhia e auxiliam no bom andamento posterior do trabalho de luto. Transmitem a noção de término, fechamento de um ciclo e sinalizam para a necessidade de seguir adiante.

A perda compartilhada nos torna solidários na dor. A dor do outro dói também em mim. Pelo processo da empatia, nos colocamos no lugar do outro e então vemos o mundo com os seus olhos. Nos identificamos com cada pai, mãe, filho ou esposa que perdeu seu ente querido. E identificados com a sua dor, revivemos também nossas próprias perdas e lutos. Ficamos enlutados como indivíduos e como sociedade. E num processo de luto coletivo, sentimo-nos autorizados a expressar nossa própria dor.

Mas, nem tudo é tristeza. O sofrimento coletivo faz surgir também a solidariedade e a união. E quantos gestos bonitos temos visto acontecer! Amor que ultrapassa fronteiras, vela_laranjanão tem camisa, nacionalidade ou interesses. Amor, simplesmente amor. Solidariedade em sua forma mais pura e humana. Faíscas de esperança em meio ao sofrimento. Consolo. E para quem vivencia essa dor bem de perto, o apoio social, o suporte ou mesmo um simples copo d’água em meio ao caos pode ser de valor inestimável. Na fragilidade da dor, saber que se tem com quem contar traz consolo e coragem para seguir.

O caminho certamente será longo e o trabalho (de luto) árduo. Porém, tenho certeza que com a torcida de todos, muito apoio e carinho, o luto pode sim, pouco a pouco, se transformar em serenidade e recomeço.

 

 

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