A vida continua. Quem já não ouviu essa frase em um momento de dor, diante da morte de um ente querido? Sim, a vida continua e isso é tão obvio que chega a ser irritante escutar uma frase dessas quando o nosso mundo parece ter acabado. Por algum tempo, após a morte de uma pessoa querida, é como se parássemos no tempo. Chegamos mesmo a acreditar que nunca mais conseguiremos retomar a nossa vida. Não é da natureza humana estar “preparado” para a perda, para a separação. E quando ela acontece precisamos de um tempo para assimilar esse fato, entrar em contato com nossa dor e redescobrir nosso lugar no mundo. E isso não acontece de um dia para o outro. Isso envolve confusão, questionamentos, sentimentos contraditórios, busca de sentido e explicações. Ao final desse processo desgastante, mas transformador, estaremos prontos para retomar nossos afazeres e prazeres. E é neste ponto que algumas pessoas não conseguem seguir adiante. Dizemos então que seu luto “estagnou”.
Para alguns pode ser muito difícil abandonar o luto. E não é por que “gostam de sofrer” como muitas vezes se ouve por aí. O enlutado simplesmente odeia pensar que vai esquecer o ente querido que morreu. Esquecer é aterrorizante porque é não ter mais. Bem ou mal, o sofrimento é ainda o que liga o enlutado àquela pessoa querida. Deixar para trás o luto, voltar a fazer planos e retomar o convívio com amigos e familiares pode, de uma forma distorcida, ser entendido como uma traição à memória daquele que partiu. Como se o fato de não estar permanentemente sofrendo e pensando no morto significasse que, com o passar dos dias, ele seria esquecido. Todavia, como já dizia Parkes, psiquiatra e grande estudioso do luto, jamais esqueceremos quem um dia muito amamos. Na Terapia do Luto trabalhamos a transformação de uma ausência em memória. E descobrimos que podemos encontrar outro lugar em nossas vidas para aquele ser querido. Um lugar onde não há o menor risco dele ser esquecido: dentro de nós.
Outra situação que dificulta o abandono do luto é a sensação de culpa que muitos enlutados relatam sentir quando os sentimentos de dor e pesar passam a dar lugar a lampejos de alegria. Existe o pensamento errôneo de que ao sentir-se feliz, sorrir ou aceitar convites para festas e viagens o enlutado esteja minimizando sua perda e diminuindo a importância da pessoa falecida em sua vida. Porém, é preciso lembrar que, assim como a tristeza, a alegria também faz parte da vida e precisa aos poucos retomar seu lugar. A saudade é inevitável. Momentos de tristeza e choro certamente continuarão a existir, mas será muito melhor, e mais saudável, se aos poucos eles puderem ir dividindo espaço com a felicidade e a vontade de viver.
Aliás, cuidar de si mesmo e escolher ser feliz não é esquecer-se de quem se foi, mas sim, perceber que a vida um dia acaba e que precisamos vivê-la plenamente. Seguir vivendo é também uma forma de agradecimento pela vida compartilhada ao lado de pessoas especiais, dessas que deixam saudades quando vão embora. E que bom que tivemos a quem amar! E que bom que na ausência desta pessoa, ainda temos muitas outras com quem podemos continuar tendo bons momentos.