Vivenciar a morte de um ente querido é, certamente, uma das experiências mais
dolorosas na vida de qualquer pessoa. O momento tende a despertar uma gama de sentimentos e emoções que exigem do sobrevivente um intenso trabalho psíquico a fim de resignificar a perda e dar continuidade a sua vida. A pessoa enlutada precisa se reencontrar e, até certo ponto, formar uma nova identidade e descobrir uma nova forma de viver em um mundo sem a presença daquele que partiu.
São muitas as mudanças que o enlutado passa a vivenciar: de repente, não é mais uma pessoa casada, precisa assumir-se viúva, o “nós” transforma-se em “eu”, o “nosso” transforma-se em “meu”. É preciso encontrar uma forma de superar aquele lugar vazio na mesa de jantar, nas festas familiares e datas comemorativas. Aprender
a lidar com a saudade e com a vida que segue apesar da dor. Essa situação se repete, seja a pessoa falecida o cônjuge, um dos pais, o filho, o avô, o amigo, o namorado, o vizinho, o colega de trabalho… Enfim, nas situações de perda há sempre um vazio que fica, um sentimento que precisa ser transformado, uma dor que precisa tornar-se palavra.
Ao se perder uma pessoa querida, muitos são os questionamentos que surgem: “Por que isso foi acontecer
comigo”; “O que eu poderia ter feito para impedir isso?”; “Será que foi minha culpa?”… Parkes, um grande estudioso do luto, já afirmava que “o não saber é uma das coisas mais apavorantes para o ser humano. Perde-se a capacidade de controle, fica-se submisso a algo desconhecido, e isso é desesperante”.
A psicoterapia em situações de luto vem com o objetivo de auxiliar as pessoas enlutadas na elaboração de sua dor, na busca por respostas e sentido. Com cuidado e empatia, sem julgamentos ou críticas, o psicólogo acolhe a dor daquele que sofre promovendo um espaço seguro para as manifestações de sofrimento e pesar, que muitas vezes, em nossa sociedade, ainda são tidas como demonstrações de fraqueza.
A psicoterapia auxilia o paciente a viver seu luto, expressar sua dor, sua raiva, culpa, ansiedade e tantos outros sentimentos que acompanham uma perda. É, portanto, de grande valia para todos aqueles que perderam um ente querido. De modo especial, pode auxiliar àqueles cuja dor e sofrimento tomaram proporções patológicas, manifestando-se na forma de um transtorno depressivo, crises de ansiedade, síndrome do pânico, doenças físicas, entre outras.
Além do luto pela morte de um ente querido, há também outras formas de luto por perdas tão impactantes quanto. Há o luto vivenciado pelo rompimento de uma relação amorosa, o luto antecipatório, gerado pela constatação de uma doença incurável ou vivenciado por familiares e pessoas em fase terminal, o luto pela amputação de algum membro, o luto por uma mudança de cidade, o luto pela perda de um emprego… São todos processos de luto, em que há perdas e que pedem do indivíduo mudanças no seu modo de viver, pensar e sentir. Em todas estas situações, a psicoterapia do luto mostra-se eficaz, à medida que ajuda o sobrevivente não apenas a passar pelo luto, mas a crescer por meio dele e redescobrir o prazer e o sentido da vida.
Referência:
PARKES, Murray Colin. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus,3.ed, 1998.